Nos próximos posts, iremos falar um pouco dos clubs que marcaram época pelo mundo, seja em suas pistas animadas, como seus frequentadores, os Djs que comandavam as festas e a música que embalava estas noitadas.
Claro que teremos que começar pelo mais icônico de todos: O Studio 54!
O Studio abriu suas portas na memorável noite do dia 26 de abril de 1977, comandado por Steve Rubell e Ian Schrager, dois empresários da noite que resolveram se aventurar em criar aquela que seria a maior disco de todos os tempos.
Os dois haviam sido donos de uma discoteca chamada Enchanted Garden, mas que nunca bombou como eles queriam, já que sua localização no Queens não ajudava; as pessoas que não moravam nas redondezas, não se deslocavam até lá.
O Studio tinha uma aliada muito forte em Carmen D’Alessio (que será tema de um documen-tário dirigido por Maurício Branco em breve), uma promoter super bem relacionada, que já havia trabalhado para Valentino e Yves Saint Laurent e conhecia boa parte do Jet-set internacional.
Carmen D’Alessio cercada por Debbie Allen, Michael Jackson, Rubell e Lionel Richie
Ela foi a responsável direta pelo sucesso do empreendimento de Rubell e Schrager; tendo sido a própria que mostrou o local para os dois fazerem o seu nightclub.
O club ficava localizado na 254 West 54th Street (com tanto 54, o lugar só poderia se chamar assim) e a origem do nome vem de que lá já havia sido localizado um teatro e o Studio 52 da CBS.
O projeto foi idealizado por Scott Bromley (arquiteto), Ron Doud (design de interiores) mais Brian Thompson, Jules Fischer e Paul Marantz no design de iluminação. Este time foi o responsável por tornar os ambientes do Studio cheio de trocas de cenários, bem no estilo teatral e que fascinava quem frequentava o lugar, com uma aura hollywoodiana.
A pista acabou ficando localizada, onde anteriormente era o palco, ou seja, já havia a energia no local voltada para o “aparecer”, o ‘brilhar” dentro da pista.
Uma das surpresas da noite era uma lua em neon, que aspirava uma colher cheia de cocaína, a e que aparecia em cima da pista, nos momentos de ápice, e que só vinha a reiterar a ‘drug of choice” da noite.
As celebridades tornaram-se figuras indispensáveis lá e não era qualquer celebridade, eram aqueles que estavam no seu ápice na época, seja no cinema, na TV, nas artes, enfim na mídia tais como Mick Jagger, John Travolta, Michael Jackson, Cher, Farrah Fawcett, Brooke Shields, Olivia Newton-John, Jerry Hall, Divine, Calvin Klein, Elton John, Diana Ross, Margaux Hemingway, Debbie Harry, Margaret Trudeau (a então mulher do primeiro ministro canadense), Rick James, Baryshnikov e muitos outros.

Rubell abrindo alas para a passagem de Yves Saint Laurent mais Lolou de la Falaise e Marina Schiano na festa de lançamento do perfume Opium.
Claro que havia aquele grupo que eram os “habitués” tais como Andy Warhol, Grace Jones, Liza Minelli, Halston, Truman Capote, Bianca Jagger, Elizabeth Taylor, e outros.
Além disso, o club tinha suas figuras emblemáticas como a Disco Sally (a senhora que dançava sem parar, apesar dos seus 78 anos), a Lady Marian (que ia sempre nua), além de um número enorme de drag-queens, que iam para fechar, com modelitos ultrajantes e inesperados.
Cada detalhe do club foi pensado por Rubell, desde a corda de veludo da porta, como as luzes que desciam até a pista; tudo para fazer com que a clientela tivesse a melhor experiência de suas vidas.E era justamente isto que tornava o Studio um lugar tão especial, além da door policy, onde Rubell escolhia a dedo quem entrava, ele queria que as pessoas lá dentro se sentissem seguras em ser quem desejavam ser, sem medo, sem receios.
A própria escolha de Rubell de quem deveria entrar não seguia um padrão de bastava ser famoso para entrar, você tinha que ser interessante, ter uma boa energia, estar vestido de maneira atraente. Certa vez, duas mulheres foram nuas e montadas a cavalo e ele deixou apenas entrar o cavalo que elas estavam montadas.
Ele era um rei do marketing, já que sabia que a publicidade era a alma do negócio, assim o club começava a chamar a atenção na imprensa pelas celebridades que lá eram fotografadas.
Rubell dava o truque de que mantinha a privacidade, enquanto convidava fotógrafos escondidos para fotografar estas celebridades.
Outras das ideias de Rubell, para diferenciar o local, foi criar festas temáticas onde a imaginação (e o orçamento) não tinha limites, podendo transformar o Studio num circo, numa fazenda (com cavalos e vacas de verdade), numa Disney, numa high school (para a festa de lançamento do filme “Grease”), ou seja lá qual fosse a piração daquele momento.
As celebridades tinham o seu próprio local, que era o basement, onde havia a chamada VIP room, onde só entravam convidados e rolava de tudo um pouco.
Foi realmente com a festa de aniversário de Bianca Jagger, na qual ela entrou montada em um cavalo branco, que o Studio 54 estourou mundialmente, tornando-o o nightclub onde todos queriam ir, mesmo que você fosse barrado na porta. Lembrando que a festa em si foi um fracasso, mas a sua repercussão na mídia mundial foi mais um golpe de mestre de Rubell.
A receita de sucesso do público do Studio era uma mistura de celebridades, gays, pessoas bonitas, europeus da alta sociedade, bem como desconhecidos, que faziam o lugar ser realmente especial.
A música contribuía para que tudo isto fosse um grande sucesso, já que a disco predominava nas paradas e o Studio 54 era a “ultimate disco”, o lugar onde o ritmo era o que dominava a noite. O baixo e a batida eram pulsantes o tempo inteiro e era lá que os DJs residentes Richie Kaczor (nos finais de semana) e Nicky Siano (que fora o criador do The Gallery e fazia o som do Studio nos dias de semana) mandavam ver para manter a pista sempre animada.
A famosa cabine do DJ do Studio, somente para poucos e bons
Foi graças a Kaczor que a música “I will survive”, de Gloria Gaynor, clássico das discotecas, bombou da maneira que bombou, já que foi ele que apostou na música, que era o lado B de um single. É claro que a música virou um dos hinos do Studio 54.
Além desta, algumas músicas que não podiam faltar no Studio eram:
‘Le Freak” do Chic (música esta concebida quando Nile Rodgers e Bernard Edwards foram barrados na porta e ficaram tão putos que compuseram a canção, que na verdade queria dizer “Fuck off” e foi suavizada para o título final):
“Take me home” de Cher
“I love the nightlife” de Alicia Bridges
“Let’s all chant” de Michael Zagger Band
“Disco Heat” de Sylvester
“Boogie Oogie Oogie” de Taste of Honey
“He’s the greatest dancer” de Sister Sledge
“In the Bush” do Musique:
A própria época que o Studio teve seus anos de glória, era o momento pós-Vietnã e pós-Watergate, a liberação sexual estava no auge e o club acabou refletindo estes novos tempos, onde o que importava era se divertir. Assim, em vários lugares de lá, sejam nas escadas, nos banheiros e principalmente no andar superior, na famosa “rubber’s room, com sua bancada de borracha preta, o povo fazia sexo normalmente, não importando com quantos e com quem.
As drogas eram consumidas em grande quantidade, seja cocaína ou os quaaludes (também conhecido como mandrix ou methaqualona), distribídos por Rubell para seus amigos ou conhecidos e torná-los ainda mais loucões, fossem eles celebridades, políticos, esportistas, não importava.
A festa parecia não ter fim, mas as declarações de Rubell e a sua ‘inocência” em dizer coisas na mídia como “only the Mafia does better” (somente a Máfia faz melhor), fez com que os fiscais do Imposto de Renda abrissem o olho e resolvessem dar uma batida surpresa na casa.
Isto aconteceu no final de 1978, quando a polícia descobriu milhares de dólares escondidos em sacos de lixo, no forro do escritório, além de livros de contabilidade e mais dólares escondidos no apartamento de Rubell e também num cofre de um banco.
Em 1979, ele e Schrager foram condenados a três anos e meio de prisão, por sonegação de impostos, mas não sem antes fazer uma grande festa de despedida, em janeiro de 1980, onde Liza Minelli e Diana Ross cantaram e ele, Rubell, entonou o trecho da canção “My way”: “I did it my way”… (eu fiz do meu jeito).

Diana Ross cantando sentada na cabine do DJ na última noite de Rubell e Schrager no comando do Studio.
O club fechou as portas de vez em 1981, enquanto os dois estavam na prisão.
Rubell e Schrager tiveram sua pena reduzida ajudando a polícia em descobrir mais donos de clubs que tentavam burlar o imposto. Alguns dizem que eles também revelaram alguns hábitos das celebridades, ganhando a inimizade de algumas.
Na sua dura readaptação, eles tiveram várias portas fechadas, já que muitos de seus amigos dos tempos de Studio se julgaram traídos pela exposição que tiveram com o escândalo.
Até que dois anos depois, eles conseguiram um empréstimo para abrir um novo conceito de hotelaria, com os chamados hotéis-boutiques, cujo primeiro deles foi o Morgan’s em NY.
Mas a paixão pela noite os fez abrir mais um club em 1985: o Palladium, que não teve o mesmo sucesso do Studio, mas teve seus momentos de glória, só que a noite já não era mais a mesma.
Rubell veio a falecer em 1989, vítima de uma hepatite crônica (que muitos acreditam ser em decorrência da Aids) e Schrager é um empresário de sucesso no ramo da hotelaria, abrindo vários hotéis durante os anos que se seguiram, tais como o Hotel Delano (Miami).
O club foi homenageado de inúmeras maneiras pela cultura pop, seja em livros, documentários e mais. Um deles foi o filme ‘54”, lançado em 1998, que acabou sendo um fracasso no seu lançamento, mas que acaba de ganhar uma versão nova, a ‘Director’s cut” (a versão do diretor) que inclui cenas deletadas e que mostram mais bafos do que acontecia lá, aguardemos então!
